03 abril 2016

A Perdição da Cavalaria - Poema Épico

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A Perdição da Cavalaria
- Epopeia não métrica -


Era um homem marcado

Tão jovem, tão frio
Cavaleiro esperado, vivido e torcido
Um tanto esquecido
Deixado de lado, embora amado
Por poucos que viam o valor escondido
Tentado, tentado
Por todos os lados!
O pobre homem vivia cercado
Confuso, perdido, jamais repetido
Cavaleiro andarilho tua vida é lutar!

Nas estradas e vias já o conheciam
Cavaleiro famoso de todo dia
Viajava o mundo todo em seu cavalo
E sorria, sorria, para os amigos que via
O cavalo era forte e o cavaleiro também
E todos que viam se surpreendiam
Com sua capacidade, seu carisma imedido
Sua voracidade pela glória do dia

Dizia a si mesmo
“Um dia ei de ser grande
Andarilho ou não
Serei triunfante”
E lutava, lutava, com ou sem arma
Mas sua mente enganava
E a vida passava
Onde estava, onde estava
A glória perdida?

E seria um rei, seria sim sim!
Ele bem sabia como era para ser
Nascera com a cabeça nos céus em sonho
E o trono lhe parecia bem cabido à revelia
Não pensava nos percalços que passaria
Só pensava na vida em total alegria
Na vida de corte, num castelo bem belo
Viajando pelo mundo em nome de seu povo
Bem vestido, bem falante, poderoso e temido
Homem do povo, homem de poder!

Queria ele ser rei, mas rei sem rainha?
Procurava incessante
Mas nada obtinha
Era cavaleiro andante, solitário esquecido
Seu destino era viver sem o amor que obtinha
Era rei sem rainha, em seu próprio mundo
Encontrou outros cavaleiros tão perdidos quanto

Lutaram então juntos, mas logo partiam
Cavaleiros andantes jamais se prendiam
Cavaleiros andantes jamais se esqueciam
Mas cavaleiros andantes... Sempre partiam

Amigos, amigos! Todos se diziam
Mas de todos só poucos por ele morreriam
E ele próprio se perguntava todo dia
Por quantos deles ele mesmo morreria
Pois eram homens fartos, ou fracos, ou sem tato
Homens risonhos ou homens estranhos
Não importava que tipo de homens eles eram
Passavam por sua vida sem muito cuidado

Cavaleiro andarilho, poeta solitário
Não entendia o que era a alegria de viver que outrem dizia
Existia para cumprir funções e inspirar outros
Existia para viajar e sobreviver mais um dia
Mas não sabia se vivia ou existia
Porque, no fundo
O cavaleiro não tinha alegria
E percebia, a cada dia
Que ela na verdade não existia
Alegria era ilusão criada para o cego
Pois o mundo era muito mais do que a doce idiotia
E o cavaleiro, sabido como era
Não podia se contentar com aquela alegria de ignorancía
Alegria falsa, fugaz e tardia
Alienação posta em dia

Até os bardos procurou em busca de amigos
Ouvira suas histórias sem nenhum receio
Em sua mente havia muito bem um abrigo
Mas as tavernas eram mais quentes e ele mais aconchegado
Nos braços de damas imaginárias
Em sua mente as músicas tornavam-se verdade
E os bardos sorriam, dinheiro com ele ganhavam
E os bardos riam ao vê-lo sorrindo

Decidira por si que a música era certa
Comprou uma harpa e começou a tocar
E pensava, pensava, mas nunca concluia
Uma música sequer por falta de alentia
Fazia poesia como ninguém
Mas a ninguém também as apresentava
Eram para si mesmo e seu bom conforto
Cavaleiro andante também é bom moço

Descobrira seus amigos
Sua espada e seu escudo
Seu cavalo e suas mãos
Sua mente e seu coração
Agora confiava neles, e era assim todo dia

Cavaleiro viajante, teus motivos são de um dia
Cavaleiro andante que motivação mesquinha!
Tu lutas por glória, tu lutas por nome
E simplesmente te esqueces que nada vem sem honra
Os inimigos diziam, todos que eram contra
E riam e riam do cavaleiro sem conta
Mas no fim todos eles morriam sem ver o dia

O cavaleiro dizia
"Honra não é tolice
Muito menos idiotia
Honra não é ingenuidade
Nem fazer o que o outro também não faria"
E lembrava dos grandes homens que lhe motivavam
Concluía, concluía, que era como um deles pensaria
Sempre buscando ser forte e poderoso
Como um leão, como um rei em glória dourada
Um agitador, um guerreiro poderoso
Um homem de fazer inveja!

As mais belas damas ele havia visto
Em bailes dançantes e nas tavernas mais frias
Em bordéis e nas ruas, nas vias tão sujas
E com nenhuma delas conseguira o que queria
Eram elas tão fracas, indignas ou frias
Para um cavaleiro andante, precisava ser de euforia
E sem nenhuma dama, o galante foi para a justa
E sem nenhuma dama, perdeu aquele dia


Os homens lutavam sempre entre si
Por vezes o cavaleiro não queria estar ali
Mas era sua função, matar pelos outros
Ou por si mesmo, não sabia de novo!
Cavaleiro que era, montava e matava
Sem remorso por nada ou por ninguém
E ria, e ria, da desgraça alheia
Se divertia na vida de outrem

“És homem do reino
Ou homem da república?”
Perguntavam-lhe os tolos
E todos os perdidos
Contudo, cavaleiro ganancioso que era
Respondia que lutava só por um dia
Um dia de glória, um dia de vida
Um dia em que toda a dor seria bem recebida
Um dia em que uma coroa consigo estaria

E então se lembrava
Da infância perdida, tempo de vida
Em completa euforia
Seus pais lhe diziam dos perigos nas vias
Burgueses que eram, razão em temer
Todavia sentia certo sangue nobre
De seus antepassados que encontraram
A glória da morte!

Contudo ainda criança sonhava em viajar
A mãe lhe dizia
“Cavaleiro andante
Tu és navegante
Num mar de brilhante
De arma em punho e armadura polida
Um dia terás os corações que preferia”
E tudo na metáfora, ela dizia
Pois seu filho querido ela não queria
Nos perigos da vida

Contudo ainda criança sonhava em viajar
O pai lhe dizia
“Cavaleiro andante
Filho meu não vagabundeia
Tomarás tento na vida, serás honrado
Viverás uma vida calma e pacífica
Terás mulher e filho, serás doutor na vida
Honrará a ti mesmo e a tua família”
E o pai, realista, queria o melhor
Mas o filho enobrecido o desafiara ao combate
De espada em punho, expressão retorcida,
Lutaram, lutaram! Oh céus, que impía!
O pai, já ferido, desistiu de lutar
E o filho, vencido, escondeu-se ao luar

E então procurando
Se perdeu no luar
Cavaleiro andarilho lutava por ar
Em jogos, distrações, ele agora vivia
Perdido, perdido, em sua própria euforia
Sua arma perdeu,
Seu cavalo morreu
De cavaleiro a ladrão ele desceria
Não fosse ela, tão distante em aquarela
Par tenaz que vinha para sua alegria

E por onde olhava, via-a como em letargia
Nas flores, no céu, no mar e nas vias
E ela sorria, acenava e partia
E o cavaleiro ainda assim a perseguia
Sua vida tomara um novo sentido
De cavaleiro perdido tornava-se marido
Marido da Mão do Destino
Que brincava com ele sem que fosse percebido
Cavaleiro andarilho buscava um meio
Transcendia o tempo sem tomar tento de freio
Lutava, lutava, como bem sabia
Mas nada se comparava com a tal alegria

Era um homem marcado, mas havia esquecido
Era um homem viciado, mas só na euforia
E teu par tenaz lhe deu um caminho
Mesmo que tão distante ele a visse todo dia

“Que caminho mais torto”
Pensava ao meio-dia
Mas durante a noite era só alegria
Sorria, sorria! O cavaleiro galante
Que agora encontrara sua companhia

Sua musa o inspirava e poemas fazia
Sorria, sorria, esquecia do outro dia
Os poemas do mundo ficaram de lado
Em troca dos que ela havia lhe proporcionado
E por carta, por carta!
Enviava-os a ela, via-a sorrir e gostar e pedir
Continuava os fazendo por ser um bom moço
Apaixonado, lutava e se dedicava

E nas justas, nas justas
O cavaleiro ganhava
Dava-lhe todas as flores e presentes que conseguia
Mas cavaleiro tolinho só não podia
Competir com fatores fora de seu dia
Vivera toda sua vida dia por dia
Mas agora tentava pensar no amanhã
Cavaleiro tolinho tão beligerante
Nunca chegaria a viver o amanhã!

Cavaleiro tolo, confia demais
Em seu coração jovem e voraz
Viveu todo dia pensando no amanhã
Queria casar e fazer sua família
Que família, que vida
O cavaleiro teria!
Era dele a glória e era dele o prazer
Até que chegou o temido dia
E acordou o cavaleiro
Apunhalado como temia

Ela havia sumido
E a gargalhada do Destino
Deixara o cavaleiro tão desconcertado
Todos estavam certos, ele estava errado
Lutara por uma causa já condenado

Ela havia sumido e o apunhalado
O cavaleiro que um dia cavalgara pomposo
Via agora seu cavalo morrer de fome
Suas pernas tremiam da fraqueza unissone
E o coração batia, mais lento, mais fraco
Havia perdido a guia da alegria

Tal par tenaz era só utopia
Ilusão de sua mente para a própria alegria
Fruto de sua frustração juvenil
Com a vida de obstáculos que era tão vil
Retornou às tavernas, às vias e aos pátios
Ouvia ao bardo a falar de amor
Amores perdidos, tão desiludidos
E agora entendia toda aquela moradia

Bebia, bebia!
E olhava em volta
Procurava por todas e em nenhuma achava
A guia bonita e o par tenaz
A vida alegre que lhe fora prometida
Lembrava, lembrava
Das ilusões preferidas, de que um dia a coroa
Chegaria em sua vida

Acreditara na guia, na bela perfídia
Que lhe prometera a eternidade e a vida
E o céu e a terra, e a coroa e o trono
E o amor de seu próprio peito para o tolo perdido
Acreditara naquilo, mas não sabia
Que parte de tudo era ele quem dizia
Que guia, que guia tomara para si?
A escolha era dele que ouvia o que queria

Ele havia amado tanto
Que esquecera como era viver sem amar
E agora percebia o quanto injustiça é corriqueira
Lutara, lutara, mas não havia vitória
Pois quanto mais se ama
Mais se sofre
E quanto mais se ama
Mais se decepciona no fim
Quando a faca penetra as costas
E a dor percorre todo o corpo

Mas era um homem marcado,
Tão jovem, tão frio
Cavaleiro perdido agora sem alegria
Sobrara-lhe a raiva, o ódio e a dor
Sentimentos aos quais não havia temor
E buscara sua espada, que lhe fora roubada
E o cavalo, enterrado, na beira da estrada
Era cavaleiro sem arma e sem montaria
Devia ser morto na via para seu próprio bem

Cavaleiro teimoso, cavaleiro maldito
Caminhou, caminhou, e outra arma achou
Um cavalo, nem tanto, mas sabia que um roubaria
Cavaleiro astuto não passava escassia
Os pés o levavam sempre a frente
Olhava as belas damas e delas tinha o calor
Viajava sob sol, lua e estrelas
Matava, matava e sorria por um dia

Mas agora a ferida sarava a cada dia
Apunhalado o cavaleiro só viajaria
E seu corpo, tão forte, tão jovem e sadio
Curava e curava a si mesmo, só ria
Ria ao olhar para trás, para si mesmo
Via um tolo iludido nos sonhos de idiotia
Prometia, prometia, que aquele erro não mais cometeria
Via sua guia à distância e cuspia
O cavalo virado para o lado oposto
A força do cavaleiro prevaleceria!

Um dia de glória, um dia de pão
Um dia de bem-estar merecido
E conseguiu um cavalo, tão belo e tão forte
Logo às justas voltou e dessa vez ganhou
Cavaleiro tão forte então percebeu
Que não precisava de ninguém pra viver
Esqueceu sua guia, seu par tenaz
Cavaleiro queria só viver em paz
Tão forte, tão forte, enfrentava a morte
E até mesmo em casa ele apareceu
Mas pela noite, se escondia, num esconderijo
Que sabia, bem sabia, ser só seu

Cavalgadas, espadas, escudos em meu lar
Casa de burgueses com nobreza no ar
O cavaleiro ria ao ver como era
A vida da infância que ele próprio tinha
Agora vivido, viajado e sabido
Não voltava mais a viver ali nem que pago
E ria, e ria, do despropósito da vida
Ao pregar-lhe tantas peças em tão pouca datia
De ninguém precisava, sabia, se tivesse sua espada!

A medida da decepção
Era a mesma do esforço
E o cavaleiro, astuto, parou de esforçar-se
Para entender o que não podia mais
Cavaleiro esperto passou a viver
Como antes, um dia, havia vivido
Bem acostumado sabia como fazer
Mas agora descobrira como uma dama ter
Se nenhuma se tornava sua companhia
Era temporário, ele bem sabia
Era cavaleiro, galante e esperto
Bardo nas horas vagas e poeta debaixo do teto

Ele era forte, ele era esperto
Viajava todo dia e a mente ocupou
Logo, bem breve, estava em si mesmo
A tristeza por si superou
Cavaleiro andante pegava estradas
E comprava comida de um mercador
Sorria, sorria, sem motivo algum
Por que bem sabia que a vida
Tinha propósito nenhum.


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