31 dezembro 2016

Natal de 2016



Era o sábado de natal, eu havia acordado com uma agonia na garganta, cuja intensidade aumentou no decorrer do dia até que no principio da noite já tocava os limites do suportável. Mas o que mais me oprimia eram os pensamentos que me ocorriam. Isolado das comemorações dos homens, levado pela embriagues suave de algumas doses, eu divagava sobre o tempo pretérito e o presente, todo o nosso mundo e o meu mundo particular, e muito do que eu via só aumentava meu desespero e desgosto. 


Eu olhei através da janela todo o mundo lá fora. Todas as construções estavam enfeitadas com luzes brilhantes, que piscavam em diversas cores, e imaginava as famílias reunidas em suas salas, sentadas no sofá em cuja proximidade havia montado um pinheirinho, talvez artificial, com bolinhas vermelhas e douradas, envolta em pisca-piscas, com uma estrela no topo. Os parentes distantes conversando, dando risadas, confraternizando, bebendo cerveja e tirando fotos para postar em mídias sociais em troca de migalhas de reconhecimento; sempre mantendo as aparências de felicidade e aguardando ansiosamente a meia-noite, para devorar a ceia e simular sentimentos profundos que no dia seguinte não mais existiram. E todo aquele mundo do qual eu não fazia parte só me causava horror e asco, esse mundo de tradições e encenações ridículas.

E olhava também para cá, para dentro, para o meu mundo particular, para todos aqueles livros empoeirados de autores mortos e poucos conhecidos, os rascunhos espalhados caoticamente em cima da mesa sobre o qual uma caneca cheia de bitucas servia de cinzeiro; um mundo sozinho e escasso de alegrias intensas, mas ainda assim, muito mais profundo que o mundo lá fora.

Quando foi meia noite, o céu se encheu de explosões e eu olhei para cima: “faltam 6 dias para o ano novo”, e eu não sei bem se foi o cigarro ou o a bebida, mas olhando dli, toda a cidade lá embaixo e todas as estrelas lá em cima, algo desconhecido surgiu em mim, na região do peito. Talvez fosse o que chamam de esperança.


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